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A palavra Renovatio significa renovação em latim, mas pra nós o sentido dessa palavra vai muito além de seu significado literal. Renovatio virou sinônimo de projeto autoral, de vinho brasileiro ícone, da força da mulher no trabalho, da concretização de um sonho compartilhado e, por fim, de um marco na história da Vinhos de Bicicleta. Há 8 anos nascia este clube de vinhos artesanais, com o intuito de fugir do lugar comum e trazer a você uma experiência que extrapolasse a simples degustação de um vinho. Sabíamos que a gente havia criado algo especial, com essência verdadeira, mas não tínhamos ideia do que tudo isso se tornaria um dia.
O ponta pé inicial deste projeto foi a vontade de jovem adulto, de 25 anos, que se encantou pela vitivinicultura e quis compartilhar essa vivência com outras pessoas. Afinal, o vinho é poesia engarrafada, um amigo para as horas difíceis, um camarada para os momentos de alegria e, caso dosado na medida certa, um fiel companheiro para toda uma vida. Aquilo que era apenas um desejo no ano de 2012, tornou-se uma empresa que gera empregos, uma plataforma de educação, um espaço para entretenimento e um dos maiores centros de propagação da cultura do vinho em nosso país.
Para celebrar a concretização desse sonho e propor um olhar otimista para o futuro, encomendamos com a talentosa enóloga brasileira Janaína Massarotto um corte premium que expressasse esse momento da marca. A partir de sua sensibilidade e conhecimento, ganhou vida um corte formado por diferentes terroirs do Rio Grande do Sul. Os elementos combinados foram 40% de Merlot safra 2019 (8 meses em barricas de carvalho francês) da Campanha Gaúcha, 30% de Merlot safra 2018 (12 meses em barricas de carvalho americano) de Campos de Cima da Serra, 20% de Cabernet Franc safra 2019 da Serra do Sudeste e 10% de Ancellotta safra 2019 da Serra Gaúcha.
Para vestir essa distinta criação enológica, convidamos o designer paulista Fernando Fregate, que desenvolveu um rótulo inspirado nas fases da lua e todas as constantes renovações que ela representa para nós. Um brinde ao nosso legado e a você, que é parte fundamental dessa história.
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
Quem acompanha meu trabalho no canal Vinhos de Bicicleta no Youtube sabe bem de minha paixão pela Garnacha. Tenho que admitir que, por ser uma casta bastante produtiva, existem diversos vinhos mais comerciais e menos complexos feitos com essa variedade no mercado. No entanto, quando o produtor se propõe a fazer um bom vinho, dificilmente ela decepciona.
Apesar de seu reduto mais famoso ser a Espanha, hoje existe uma produção significativa da Garnacha no Chile também. Isso ocorre principalmente por conta dos colonizadores espanhóis, que acabaram trazendo mudas dessa cepa para as terras da América do Sul. Um dos vales chilenos que teve contato com a vitivinicultura desde o século XVII se chama Almahue. No total, essa pequena região possui 360 hectares de vinhas plantadas, sendo que diversas delas são antigas, com idade acima dos 70 anos e ainda produtivas.
Em um período mais recente, na década de 1930, o vale de Almahue passou por sérios problemas hídricos, que prejudicariam muito a população local, não fossem os moinhos d’água usados para irrigação, conhecidos por lá como Azuda. Essa engenhosa solução permitiu o desenvolvimento de uma vitivinicultura mais moderna, mudando para sempre a história da região. Esse contexto foi tão emblemático, que em 1998 os moinhos de Almahue receberam o título de “Monumento Nacional Histórico” do Chile.
A partir dessa história que revela criatividade e inovação frente às adversidades, a produtora Clos de Luz resolveu nomear sua linha de vinhos ícones com o termo Azuda. A vinícola plantou as variedades Syrah e Garnacha em colinas íngremes de solos graníticos do vale de Almahue. A vinificação das castas ocorre separadamente e gera dois varietais distintos, ambos provenientes de colheita manual, com pisa em lagar, fermentação a partir de leveduras indígenas e produção limitada de garrafas, todas numeradas à mão.
Para mim, é muito representativo ter selecionado o Azuda Garnacha para compor a primeira seleção do novo Clube Vinhos de Bicicleta, reinaugurado em 2020. Esse vinho carrega consigo todos os valores que me motivaram a abrir a empresa em 2012, quando eu era apenas um jovem adulto sonhador, pedalando em meio a vinhedos e me apaixonando pelo universo do vinho em definitivo. Nesta garrafa estão as histórias e emoções de um povo, que construiu um legado de trabalho artesanal em conjunto com a natureza, fazendo com que uma simples bebida se tornasse a expressão de toda uma cultura.
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
Por volta de 500 a.C., os antigos Etruscos já cultivavam vinhas na atual área demarcada de Chianti, localizada na encantadora região da Toscana, Itália. Existe uma história muito rica por trás dessa denominação de origem, inclusive, pouca gente sabe que o próprio termo “Chianti” provém do latim “Clante”, nome de um fórum ancestral que existia naquela terra. Como se trata de uma vitivinicultura regional cujo legado é milenar, os italianos têm profundo conhecimento sobre as minúcias desse importante terroir. Atualmente existe uma subdivisão geográfica bastante detalhada, sendo que Colli Senesi está sem dúvida entre as melhores zonas de Chianti. Por conta disso, gostaria conversar com você a respeito dela.
Dentro de Colli Senesi, existe uma cidade histórica chamada San Gimignano, estabelecida em uma colina, repleta de construções medievais e inteiramente rodeada por muralhas de pedra do século XIII. Para quem já teve a oportunidade de visitar esse paraíso, a impressão é que se fez uma viagem no tempo ao andar pelas ruas da cidade. A cultura do vinho e da gastronomia são muito significativas para a população local, o que acaba sendo literalmente um “prato cheio” para os turistas.
No entorno da deslumbrante San Gimignano estão algumas das mais ilustres produtoras da Toscana. Entre elas está a Tenuta Pietraserena, que pertence à família Arrigoni e já teve o privilégio de ser descrita pelo grandioso cineasta italiano Franco Zeffirelli como “uma das porções mais belas da região”. Seus vinhedos são tão especiais, que até hoje podem ser descobertas por ali conchas marinhas do Plioceno, período da era Cenozoica compreendido entre 2 e 5 milhões de anos atrás.
A charmosa Pietraserena ocupa os dois lados do pequeno morro onde está situada. Em 1966 era uma propriedade de apenas 7 hectares, mas com o passar dos anos foi adquirindo lotes de terra na vizinhança até chegar no tamanho atual, com cerca de 40 hectares, dos quais 30 hectares são áreas destinadas ao cultivo de vinhas e olivais. Nesse local bucólico com altitude de 330 metros acima do nível do mar é criado o Pietraserena Chianti Colli Senesi D.O.C.G., a partir das cepas Sangiovese, Colorino e Canaiolo. Escolhi destacar esse exemplar, pois representa muito bem a história e o terroir de Colli Senesi. Um rótulo ideal para estar presente em uma mesa farta de um almoço de domingo.
Quando abrir a garrafa, dê bastante tempo para a bebida respirar, para que a acidez marcante e os aromas se tornem mais agradáveis. Assim o vinho estará pronto para proporcionar uma viagem através dos sentidos, lhe transportando para uma das mais importantes e bonitas regiões do mundo do vinho.
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
Na história clássica da vitivinicultura, a Cabernet Franc sempre foi intrinsicamente associada ao seu país de nascença, a França. Lá existem duas regiões que se destacam na produção de vinhos com essa variedade, cada uma representando um estilo distinto. Uma delas é a famosa Bordeaux, com suas vinícolas históricas, que produzem consagrados exemplares rústicos e concentrados. Já a outra é o belíssimo Vale do Loire, uma área de clima mais frio, caracterizada por produzir vinhos mais frescos, elegantes e versáteis do ponto de vista gastronômico.
Em Bordeaux, a tríade sagrada é composta por Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc. Não é tão comum encontrar varietais nessa região, afinal o estilo bordalês tradicional é formado pelo corte dessas 3 cepas, sendo que na maioria das vezes a predominância vai para a Merlot ou para a Cabernet Sauvignon. Quase sempre a Cabernet Franc entra como coadjuvante, com o papel de agregar complexidade para os vinhos. Já no Loire, o cenário muda de figura, pois é fácil encontrar monocastas de Cabernet Franc. Fica aqui minha recomendação para que você conheça os elegantes varietais dos terroirs de Chinon e Bourgueil.
Essa introdução às origens da Cabernet Franc é essencial para entender os desdobramentos de seu estilo nas terras do Novo Mundo. Sabe-se que ela chegou por aqui há muito tempo e que se adaptou bem aos variados climas da América do Sul. Essa sempre foi uma casta sem muitas complicações nos quesitos cultivo e produção, no entanto, por causa de uma questão puramente comercial, acabou perdendo força no mercado interno. A Argentina apadrinhou a Malbec, o Chile a Carménère e a Cabernet Sauvignon, o Brasil a Merlot, o Uruguai a Tannat, fazendo com que a Cabernet Franc ficasse praticamente órfã.
O lado bom da passagem do tempo é que se pode revisar conceitos antigos, os enófilos ficam ávidos por novidades e se faz necessário buscar outras potenciais estrelas regionais. Isso é justamente o que vem acontecendo hoje, a Cabernet Franc está sendo redescoberta por aqui. O mais interessante é que se você me perguntar qual é o estilo de um varietal sul-americano dessa cepa, a única resposta possível é: “depende”.
Muitos países estão criando excelentes exemplares dessa variedade, inclusive o Brasil, mas hoje gostaria de chamar a atenção para aqueles que estão sendo produzidos aos pés da Cordilheira dos Andes no Valle de Uco, na Argentina. Muitos críticos internacionais já os estão colocando entre os melhores do mundo e eu acho justa essa avaliação. A partir do pleno conhecimento dos hermanos sobre seu terroir, eles conseguiram elaborar um estilo fascinante, misturando bons atributos dos clássicos franceses. O Cabernet Franc do Uco carrega consigo a potência, o volume de boca e a concentração tânica de Bordeaux, porém também apresenta o frescor, a acidez envolvente e a versatilidade marcante dos vinhos do Loire. Para mim, o vinho se apresenta como uma dança harmoniosa, tanto para o olfato como para o paladar. Talvez a principal diferença entre eles é que a predominância aromática dos argentinos está nas notas de fruta, enquanto os franceses nos levam para camadas de aromas e sabores mais rústicos.
Agora é com você, boa degustação! E viva a reinvenção!
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
Para se conhecer a vitivinicultura do sudoeste francês, é preciso conhecer sua história. Como aconteceu em diversas outras partes da Europa, o cultivo de vinhas nessa área foi gradualmente estabelecido durante a conquista do Império Romano. No entanto, foi durante a Idade Média que uma rota de peregrinação acabou mudando para sempre o desenvolvimento da cultura do vinho na região.
Essa história começa no país vizinho, Espanha, quando no século IX ocorreu a fundação da cidade de Santiago de Compostela e, anos mais tarde (no século XII), concluiu-se a construção de um templo importantíssimo para o catolicismo europeu: a Catedral de Santiago de Compostela. Acredita-se que ali esteja o sepulcro do apóstolo Santiago Maior, por conta disso, o Papa Alexandre III chancelou a cidade como local sagrado para a Igreja Católica. Isso fez com que uma verdadeira legião de fiéis peregrinasse de todas as partes da Europa até essa área na costa oeste do norte espanhol. Essas rotas de peregrinação ficaram conhecidas como “Caminhos de Santiago” e acabaram se tornando algumas das mais concorridas da Europa medieval, ficando atrás apenas dos trajetos que levavam às cidades de Roma e Jerusalém. Atualmente os Caminhos de Santiago são considerados Patrimônio Mundial da UNESCO e muitas pessoas ainda os percorrem, mesmo não sendo por motivos religiosos.
Quando se observa o mapa desse roteiro católico, mesmo considerando os mais variados locais de origem de toda a Europa, é fácil perceber que o sudoeste francês é praticamente um ponto de intersecção obrigatório. Some isso ao fato que desde a Idade Média existem multidões percorrendo esse roteiro em peregrinação. Posto isto, não fica difícil entender o motivo que levou ao florescimento de diversas abadias e mosteiros nessa área, com o intuito de acolher e alimentar os peregrinos. Essas mesmas comunidades religiosas desenvolveram a cultura da vinha do sudoeste francês, lembrando que em diversas ocasiões era mais seguro beber vinho do que a própria água nos idos dos tempos medievais.
Com o passar do tempo, os Caminhos de Santiago e outros trajetos comerciais (como as rotas jacobinas durante a Revolução Francesa) se tornaram essenciais para a difusão de castas, exportando variedades indígenas do sudoeste e importando outras castas. Acredita-se inclusive que foi a partir disso que se carregou a Cabernet Franc para as regiões mais ao norte de Bordeaux e para as terras do Vale do Loire.
Para que você prove um pouquinho dessa história secular, selecionei o Château Molhière Terroir des Ducs, elaborado pela família Blancheton na denominação A.O.C. Côtes de Duras. Um vinho que carrega consigo complexidade e notas rústicas típicas, revelando-se um estandarte simbólico do sudoeste francês. Santé!
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
Aragão é uma região do nordeste espanhol, por onde passa um dos maiores rios da Península Ibérica, o Ebro. Trata-se de uma área com dimensões grandiosas, já que sua extensão vai desde a Cordilheira dos Pirineus (ao norte) até uma parte mais central da Espanha (ao sul). Isso faz com que o clima dali seja muito diferente de um local para outro, o que significa que a temperatura pode ser abaixo de zero nas proximidades dos Pirineus, enquanto o calor do verão é tórrido nas zonas mais próximas do deserto de Monegros.
Esses fatores não influenciam somente o tamanho das malas dos turistas que visitam a região, mas também o estilo dos vinhos elaborados em cada pedaço daquela terra. Uma das áreas vitivinícolas mais promissoras de Aragão fica no entorno da cidade de Calatayud, cuja denominação de origem carrega esse mesmo nome. Apesar do cultivo de vinhas ocorrer por ali desde o século II a.C., essa jovem D.O. foi criada apenas no ano de 1989, o que a torna uma das mais novas da Espanha.
A primeira referência escrita à distinta qualidade dos vinhos de Calatayud ocorreu no século I d.C. e seu autor é Marco Valerio Marcial, um historiador nascido na cidade romana de Bílbilis Augusta. Essa foi uma cidade próspera em seu tempo, sendo que, não à toa, os árabes fundaram o que hoje é Calatayud perto dela. Em suma, os romanos desenvolveram a vitivinicultura, os muçulmanos a abandonaram e os cristãos mais uma vez enfatizaram sua importância durante a reconquista como cultura colonizadora.
Hoje os produtores de Calatayud têm plena consciência de que as condições extremas ditam o perfil de seus vinhos, inclusive eles se orgulham disso, afinal o lema da D.O. é “onde o impossível, se faz possível”. A imensa amplitude térmica não ocorre apenas entre o inverno gelado e o verão escaldante, mas também entre o dia e a noite, o ano todo. Isso sem contar nas tempestades que eventualmente ocorrem por lá.
Além da questão climática, as videiras também tiveram que se adaptar às cadeias montanhosas com 550m a 1000m de altitude e aos solos bem secos da região, compostos majoritariamente por ardósia, cascalho, argila e calcário.
O extraordinário resultado dessa complexa soma de fatores fez com que o francês Christophe Chapillon, originário do Vale do Loire, se inspirasse para criar vinhos autorais em Calatayud. Segundo ele próprio, seus rótulos carregam um cerne moderno, sem a preocupação de seguir um estilo local mais tradicional de vinificação. Por esse motivo, escolhi deles para que você prove a natureza selvagem deste pedaço especial da Espanha. Tente perceber as diferentes expressões de fruta e especiarias, a riqueza dos taninos, a acidez que deixa a bebida viva, por fim, o equilíbrio que nasce do caos.
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
Vamos começar esse texto com a citação de Luigi Veronelli: “Você não sabe por que Gaggiarone? Vem de um antigo termo gótico, para indicar lugares e objetos de beleza superior, adequados para um rei”. Veronelli foi um intelectual, gastrônomo e crítico de vinhos, além de ser considerado um dos principais ativistas na valorização do patrimônio enológico e gastronômico da Itália. Lutou pela preservação da diversidade no campo da agricultura, tendo contribuído para o desenvolvimento de diversas denominações de origem italianas através do apoio às associações regionais.
Seguindo os ensinamentos de Luigi Veronelli, hoje lhe convido para uma viagem à diversidade. Por favor, deixe de lado por um instante aquilo que você conhece sobre a vitivinicultura contemporânea e vamos caminhar juntos pelo exótico. Nosso destino é Oltrepò Pavese, uma belíssima área ao sul da Província de Pavia (na Lombardia), bem na fronteira com as famosas regiões do Piemonte e Emilia-Romagna. Trata-se de um local na parte norte da Itália, com relevo montanhoso e solo predominantemente composto por rochas sedimentares marinhas e argila. Além desses fatores, a temperatura média anual é baixa, fazendo com que os vinhos de lá tenham características típicas como elegância, elevada acidez, mineralidade pronunciada e aromas que misturam fruta a toques de ervas secas e especiarias.
Nessa área singular para a vitivinicultura, o estilo de produção é quase sempre artesanal. Dificilmente você encontra por ali produtoras industrializadas de grandes volumes, muito pelo contrário, os vinhos de lá acabam sendo incomuns aqui no Brasil justamente porque as quantidades são limitadas. Entre essas raridades de Oltrepò Pavese está a Azienda Agricola Annibale Alziati, criadora de vinhos biológicos e naturais, que remontam técnicas seculares de vinificação. Para que você tenha uma ideia, o seu vinho Gaggiarone Vitigni Giovani tem produção anual de 4 mil unidades, sendo que todas elas são comercializadas na própria Itália ou exportadas para o Brasil, apenas.
À frente da vinícola está o enólogo Annibale Alziati, que, segundo ele próprio, é motivado pela “vontade de redescobrir as emoções de criança, quando viajava com o pai pela Itália em busca de vinhos camponeses. O encanto pelos perfumes e sabores tornou-se uma autêntica paixão, que agora adulto pode finalmente ser cultivada”. Alziati retoma o cultivo tradicional do vinhedo, deixando a natureza seguir o seu curso, sem intervenções artificiais ou invasivas. Os rendimentos naturais são baixos, devido à idade das vinhas, e a fertilização é totalmente natural. Já as práticas de vinificação são manuais, sem adição de sulfitos e sem filtração, para que se obtenha vinhos naturais, cuja elegância se expressa pelo envelhecimento em tanques de cimento e garrafa. Assim nasce o vinho biodinâmico, natural e vegano de Annibale Alziati. Deguste-o em um momento mais íntimo, como quem prova o sabor do tempo e da natureza servida na taça.
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
Hoje quero lhe pedir licença para expressar uma abordagem pessoal relativa ao desenvolvimento dos vinhos da Puglia. Vamos conversar sobre assuntos pouco discutidos a respeito da vitivinicultura italiana, mas ao mesmo tempo importantes para entendermos mais profundamente os estilos regionais desse país.
Apesar da Itália ser amplamente reconhecida em todo o mundo pela qualidade de seus vinhos, nem todos têm essa mesma impressão dos exemplares da Puglia. Essa região predominantemente agrícola no sul do país (o calcanhar da bota) sofre com alguns estigmas do passado, inclusive por parte de alguns italianos. Por ser financeiramente mais pobre que as luxuosas áreas do norte da Itália, sempre existiu certo preconceito com “aquilo que vem do sul da bota”. Para muitas pessoas de dentro e de fora da Itália, os produtos do norte são rebuscados, elegantes e mais valiosos, enquanto os do sul são simples, rústicos e sem tanto valor.
No entanto, em minha opinião, isso é somente mais um preconceito bobo mesmo. Sabe aquele pensamento malicioso e desprovido de análises aprofundadas daqueles que ainda dizem que “vinho brasileiro não presta”? Então, é mais ou menos por aí o que eventualmente ocorre com a Puglia. A realidade é diferente daquilo que alguns tanto gostam de pregar. Tanto a vitivinicultura brasileira como a da Puglia vêm passando por transformações profundas ao longo dos últimos anos. Apesar de lá eles terem muito mais tempo ligados à cultura do vinho, somente em épocas mais recentes o direcionamento pela qualidade se fez mais presente. É claro que tanto o Brasil como a Puglia ainda têm seus produtos voltados para as massas, e ainda terão por um bom tempo, mas isso não anula os projetos mais rebuscados que vêm se consolidando nesses dois gigantes.
A gente consegue enxergar esse processo evolutivo através da história de algumas produtoras da Puglia e do Brasil. Aqui existe o caso da Cave de Sol, que fez fortuna produzindo vinhos suaves de mesa em Jundiaí (SP) e agora acabou de construir uma das mais luxuosas vinícolas no coração do Vale dos Vinhedos (RS), com o intuito de produzir vinhos finos. Já na Puglia, eu chamo a atenção para a produtora Rocca, que iniciou sua história no final do século XIX, com Francesco Rocca produzindo vinhos a granel. Hoje, a quinta geração da família Rocca se consolida na produção de vinhos de alta qualidade dentro das principais indicações geográficas da Puglia. Quase ia me esquecendo de lhe contar...por um capricho do destino, a família Rocca também se tornou o principal acionista da histórica vinícola Dezzani no Piemonte, norte da Itália.
Como é legal perceber e aceitar as mudanças na trajetória dos produtores de vinho. Aqueles que sobrevivem ao passar do tempo, quase sempre tem algo de bom pra mostrar. Quem vive de passado é museu, só me interessa contemplar sem preconceitos a evolução da cultura do vinho e estar de peito aberto para as descobertas que eu ainda não vivi pra contar.
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
António Saramago, a lenda do vinho português! Sua trajetória se mistura com o desenvolvimento da vitivinicultura lusitana contemporânea, sendo que no ano de 2020 se consagrou como o mais antigo enólogo de Portugal ainda em atividade. António José Ribeiro Saramago nasceu em Vila Nogueira de Azeitão, no ano de 1948. Seu pai trabalhava no armazém da famosa vinícola José Maria da Fonseca e, por conta disso, logo aos 14 anos António também passou a trabalhar no laboratório de enologia dessa mesma produtora. Ironicamente, no passado ele só gostava de beber água e foi provar o primeiro vinho de sua vida apenas aos 20 anos de idade. Para nossa sorte, o tempo passou, ele ganhou gosto pela vitivinicultura e hoje ele diz: “O vinho é um produto tão nobre que, pouco a pouco, vamos pegando gosto e hoje não passo uma refeição sem ele. Apaixonei-me por isso.”
Saramago permaneceu trabalhando na José Maria da Fonseca por longos 42 anos, tendo sido responsável por alguns dos rótulos mais famosos da indústria portuguesa de vinhos, como o “Periquita” por exemplo. Segundo ele próprio, esse período foi uma “grande escola” para o seu desenvolvimento profissional. Já sua formação acadêmica em enologia ocorreu em Bordeaux, na França, onde pôde aprender com o grande mestre Pascal Ribéreau-Gayon, pioneiro na pesquisa de compostos fenólicos em uvas viníferas e sobre as diferenças fundamentais entre espécies híbridas e vitis vinifera.
Além de ser membro fundador da Associação Portuguesa de Enologia, António Saramago (que não tem parentesco com o escritor e não é envolvido com a política) conquistou mais de 200 prêmios internacionais, incluindo o de melhor enólogo português no ranking “Top Winemaker” do concurso Wine Masters Challenge. Personalidades de peso como Robert Parker e Jancis Robinson já teceram diversos elogios ao profissional português e aos vinhos que carregam sua assinatura, os quais foram criados nos quatro cantos do país. Recentemente António Saramago inaugurou seu projeto autoral de vinhos nas terras do Alentejo e Península de Setúbal, onde tem total liberdade para desenvolver suas criações através de 3 pilares fundamentais: qualidade, identidade e paixão.
“O vinho é um produto vivo, que está nos transmitindo constantemente sensações e, de fato, a experiência ao longo dos anos permite falar com o vinho com facilidade e conhecimento. Toda a minha vida foi dedicada ao vinho e nunca, em momento algum, a minha paixão abrandou. São mais de cinco décadas de descoberta permanente, ao longo das quais fui absorvendo e participando na senda de qualidade trilhada pelo vinho português. Considero hoje que em nada ficamos atrás dos restantes países produtores de vinho de qualidade, consciente que estou da minha própria responsabilidade no que são os vinhos modernos de Portugal. Temos castas fantásticas, vinhas e clima que se harmonizam como em poucos lugares do globo e temos a técnica, a arte e a tecnologia para lhes fazer jus ano após ano, para gáudio dos enófilos de todo o mundo. Queremos que conheça melhor os nossos vinhos, esperando que encontre neles, como nós, a inconfundível marca portuguesa.” – António Saramago.
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
Perante este momento especial da vitivinicultura brasileira, nos sentimos motivados a criar a linha Vinhos de Bicicleta Terroir, com o intuito de desmistificar as diferentes regiões produtoras do país. Através de vinhos típicos e autênticos, fizemos uma seleção de exemplares que simbolizam o caráter climático, geológico e cultural de cada local.
Em minha mais recente participação como jurado comentarista na Avaliação Nacional de Vinhos, safra 2020, busquei destacar o caminho trilhado até aqui e os pontos que fazem deste um período tão único para a cultura do vinho nacional. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Enologia era o amigo e grande profissional Daniel Salvador, que me transferiu a responsabilidade de fazer o discurso de encerramento dentre os comentaristas convidados. Aquele foi um marco importante em minha carreira como sommelier e uma alegria por ser assumidamente um entusiasta do vinho brasileiro. Sendo assim, gostaria de compartilhar com você a essência e as motivações que geraram esse discurso.
Sabemos que nas duas últimas décadas a indústria do vinho passou por reformulações importantes, através de investimentos em pesquisa, mão-de-obra e tecnologia. Isso provocou o amadurecimento desse mercado, o surgimento de novas produtoras nos quatro cantos do país e a criação de rótulos cada vez mais consistentes. No entanto, justo agora que tínhamos acabado de passar pela safra histórica de 2018 e estávamos vivenciando a “safra das safras” em 2020, chegou também a pandemia mundial, gerando medo e incertezas. Tivemos que nos resguardar em nossas casas, a moeda teve abrupta desvalorização e tivemos que repensar as formas de consumo. Em meio ao caos, para muitas pessoas o vinho acabou se transformando em uma bebida amiga e solidária, que conforta, aquece e alegra nossos pensamentos.
Diante disso tudo, o vinho nacional, que já vinha lutando por mais reconhecimento ao longo dos anos, ganhou um espaço importante entre os próprios brasileiros. Foi então que alguns passaram a dizer que isso seria apenas uma questão de momento, algo passageiro, fugaz. Bom, nesse ponto eu discordo em gênero, número e grau. Acredito de verdade que se trata de uma bonita construção erguida ao longo das últimas décadas e que, mais do que nunca, o povo brasileiro está aberto para revisões e transformações internas, tanto na esfera pessoal como social. Como diz o ditado, “mar calmo nunca fez bom marinheiro”, então nos resta usar essa turbulência de 2020 para evoluir, através de serenidade, resiliência e esperança.
Um brinde à vida e a um futuro mais feliz pra todos nós!
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
Você conhece a uva Gamay? Talvez já tenha ouvido falar de Beaujolais Nouveau, o vinho mais famoso, leve, frutado e refrescante feito com ela, justamente na região de Beaujolais. No entanto, hoje o papo será sobre outro estilo de vinho elaborado com Gamay, mais precisamente na região da Borgonha. Antes de falarmos sobre o vinho em si, vamos conversar a respeito da história dessa casta, pois isso ajudará a interpretar melhor os vinhos modernos produzidos com ela.
Acredita-se que a Gamay apareceu pela primeira vez em 1360, ao sul da cidade de Beaune, considerada o “coração dos vinhos da Borgonha”. Se Dijon é a atual capital administrativa da região, Beaune seria algo como a capital fraterna, recheada de bons restaurantes, bons produtores de vinho e lindos cenários bucólicos. Por volta do ano de 1360, a Peste Negra já estava em declínio, mas a população local havia sofrido muito com essa pandemia. Como a produção de uvas e vinho sempre foi importante para a Borgonha, naquele período a população encontrou na Gamay uma solução comercial engenhosa, já que era mais produtiva e fácil de cultivar que a Pinot Noir. Os frutos de Gamay amadureciam duas semanas antes e os vinhos elaborados com eles eram mais intensos, tânicos e, por causa da alta produtividade da cepa, abundantes.
Anos mais tarde, em julho de 1395, o duque da Borgonha Filipe, o Ousado, proibiu o cultivo dessa uva referindo-se a ela como “desleal, de grande e horrível aspereza”. Segundo ele, era preocupante a ocupação de vinhas de Gamay em terras onde deveriam ser cultivadas vinhas da “mais elegante” Pinot Noir. Sessenta anos depois, Filipe, o Bom, emitiu outro despacho contra a variedade, afirmando que “os duques de Borgonha sempre foram conhecidos como os senhores dos melhores vinhos da cristandade” e a Gamay prejudicaria a manutenção dessa reputação.
Ainda bem que os anos passaram, a argumentação evoluiu e as regras mudaram. Apesar da Pinot Noir continuar sendo a rainha da Borgonha (e sempre será), hoje é permitido o cultivo de Gamay na região. Mais do que isso, com a ajuda do conhecimento e da tecnologia moderna, vêm sendo produzidos vinhos interessantes com ela, que vão muito além do Beaujolais Nouveau. Atualmente os produtores conseguem usar os sabores frutados e a intensidade tânica dessa cepa em benefício do potencial de guarda da bebida, agregando estrutura e complexidade aos vinhos. As vinícolas contemporâneas da Borgonha, de Beaujolais e do Vale do Loire não se restringem mais a utilizar a Gamay somente por conta de sua alta produção de frutos. Agora existem denominações de origem locais que limitam essa produtividade e produtores cujo objetivo é a qualidade de seus rótulos.
Nem só de Pinot Noir vive a Borgonha! Vamos experimentar algo diferente?
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
Chegou a hora de conversarmos sobre a história de uma uva branca que conquistou meu paladar nos últimos tempos, a Friulano. Como o nome já indica, essa é uma das cepas mais representativas de Friuli, região do norte da Itália que faz divisa com Áustria e Eslovênia. No entanto, surpreendentemente acredita-se que a origem da Friulano não seja italiana, mas sim francesa. Seu berço natural teria sido o sudoeste francês, onde é conhecida como Sauvignon Vert, mas hoje em dia essa não é uma casta muito representativa para a produção de vinhos na França. O contrário disso ocorre na Itália, onde desde 1600 se cultiva a Friulano e seus vinhos tornaram-se verdadeiros clássicos regionais do Friuli. Por muitos séculos, ela foi chamada de Tocai ou Tocai Friulano pelos italianos, mesmo não tendo nenhum parentesco com as uvas emblemáticas da denominação de origem Tokaji, na Hungria.
A partir de 1995, a Corte Européia proibiu o uso dos termos “Tocai” ou “Tokay” quando o vinho não fosse produzido dentro da denominação de origem húngara. Sendo assim, os produtores italianos tiveram que decidir qual seria o nome oficial que eles estampariam em seus rótulos, já que do ponto de vista comercial e biológico Sauvignon Vert poderia até ser uma saída interessante. Foi então que eles não admitiram utilizar um nome de pronúncia francesa e acabaram optando simplesmente por Friulano, que significa “do Friuli”. Os Eslovenos também possuem uma produção expressiva dessa casta, mas, assim como os italianos, não optaram pelo nome original. Por lá, o nome oficial acabou sendo Sauvignonasse.
Como se já não bastassem todas essas mudanças, aqui na América do Sul também houve confusão com essa uva, justamente no Chile, país latino-americano que possui mais áreas plantadas de Sauvignon Vert. Lembrando um pouco o equívoco que ocorreu entre a Carménère e a Merlot, alguns produtores chilenos cometeram o engano de estampar seus rótulos com Sauvignon Blanc, enquanto estavam produzindo vinhos com a Sauvignon Vert. Apesar de não terem correlação genética, ambas as castas compartilham algumas tipicidades como intensidade de aromas, mineralidade e notas cítricas. Esses fatores de semelhança podem ter levado ao mal-entendido chileno, mas, do meu ponto de vista, as cepas produzem vinhos bem diferentes entre si e agora seria legal você mesmo colocar à prova.
O que eu gosto bastante na Friulano é sua capacidade de fazer vinhos incomuns, com evolução constante em garrafa e taça. Por se tratar de um fruto que se adaptou bem a territórios costeiros de clima frio, sua acidez é bastante destacada na maioria das vezes. Apesar disso, a estrutura média e a textura amanteigada do vinho acabam trazendo um equilíbrio delicioso para a acidez. Já a complexidade dos aromas é o ponto mais alto da Friulano, parece um ballet de notas aromáticas, que remetem a lembranças familiares e inusitadas ao mesmo tempo. Espero que você goste dessa variedade tanto quanto eu gostei de conhecê-la. Saúde e boa prova!
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados
O Monte da Raposinha é uma propriedade familiar situada no distrito de Portalegre, mais precisamente na pequena e charmosa vila de Montargil, com aproximadamente 2 mil habitantes. Essa vila fica na parte norte da região do Alentejo, onde se encontra a imponente barragem de Montargil, cuja enorme massa de água acaba gerando um efeito termorregulador para toda a região no entorno, reduzindo as grandes diferenças de temperatura. Esse efeito termorregulador em uma região de verões extremamente quentes como o Alentejo é bastante interessante, pois permite uma maturação mais homogênea e gradual dos frutos. Na prática, o frescor dos vinhos elaborados na Monte da Raposinha deve-se muito a esse processo, já que a propriedade está localizada a apenas 500m da barragem.
Essa produtora artesanal conta com 150 hectares, dos quais apenas 15 são dedicados ao cultivo de vinhas. A sede é composta por duas belíssimas casinhas de arquitetura campestre, rodeadas por vinhedos e olivais na planície alentejana. Vale a visita! Lá provavelmente você será recebido por um membro da família e poderá degustar um vinho ouvindo boas histórias locais. Rosário e Nuno Ataíde são os proprietários, mas um dos filhos do casal, João Nuno Ataíde, também compõe o time junto de sua esposa e enóloga Paula Bragança Ataíde. Inclusive, “Raposinha” era a forma que o pai de Rosário a chamava na infância, por isso ela decidiu transformar esse apelido carinhoso no nome da propriedade, como uma forma de homenagear seu pai.
Na cultura da vinícola existe também uma admirável preocupação com a natureza e com a valorização do microterroir, através de práticas sustentáveis de viticultura. As colheitas são feitas de forma manual e todas as variedades são trabalhadas e vinificadas separadamente, respeitando o caráter singular e varietal de cada casta. Somente no final do processo é que os cortes são elaborados, a partir da experiência enológica da família Ataíde.
O vinho que carrega o nome da produtora é um corte de Touriga Nacional (50%) e Alicante Bouschet (50%), duas castas bastante intensas e tânicas, principalmente quando cultivadas em áreas de clima quente, como é o caso do Alentejo. Não fosse a barragem de Montargil, provavelmente o vinho não teria tanto frescor, pois a acidez dos frutos estaria comprometida pela terra árida e ensolarada da região. É fácil perceber a correta maturação dos frutos neste vinho didático, pois os taninos ricos e abundantes (decorrentes da maturação fenólica) fazem um elegante contraponto com o açúcar/álcool bem integrados e a acidez envolvente (decorrentes da maturação tecnológica). Dessa forma, intensidade, estrutura e frescor se ajustam em uma marcha equilibrada para nosso paladar. Cheers!
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Vívidas ou efêmeras, todos nós temos algumas lembranças marcantes da infância, formadas por cheiros, sons, luzes e sentimentos. Assim começa a ser contada a história da Casa Grande de Los Horneros, erguida há mais de 60 anos, quando ali ainda havia pouca gente e a estrada era de terra. Em meio a sítios e fazendas, esse foi o lar do casal Gaitán e Chica, junto de seus três filhos Washington, Juan e Teresa, construído por eles e para eles. Comparada às casas que a rodeiam, a Casa Grande é a maior em tamanho e uma das mais charmosas também. As vinhas envolvem a propriedade, misturando-se ao belo jardim com hibiscos, ameixeiras e romãs. Completando o cenário estão os feijoeiros que Gaitán costumava colher com seus netos, as conservas e massas caseiras da Chica, as tortilhas feitas por Juan, os bolos de doce de leite, os churrascos e os almoços de fim de semana.
Este projeto artesanal traz consigo o respeito pela família e o calor do lar. Ao chegar à Casa Grande, provavelmente o primeiro a lhe cumprimentar será o querido e simpático cão Zíppolo. Logo em seguida virá Washington, para lhe contar sobre sua paixão pela vinha e pela terra. Florencia, a enóloga, vai apresentar os vinhos e revelar a origem de cada rótulo artístico. Se der sorte, ainda poderá provar alguma delícia caseira feita por Francesca, com a possibilidade de trocar algumas receitas.
Essa é a quarta geração de viticultores da família, lutando pela preservação de seu legado através deste belo projeto independente, que surgiu no mesmo galpão onde Gaitán guardava as máquinas utilizadas no vinhedo. Segundo eles, “o vinho é uma expressão que, na sua individualidade, dialoga com quem o degusta”. Eu acredito na filosofia desta família uruguaia, principalmente após degustar seus vinhos, carregados de vivências, sentimentos e personalidade.
Caso queira visitar a Casa Grande e a acolhedora família que a habita, basta pousar em Montevidéu, seguir de carro para o leste na região de Canelones, até chegar no Camino de Los Horneros. Uma terra de brisas suaves e constantes provenientes do Rio da Prata, que evitam temperaturas extremas. Boa viagem e até a próxima degustação.
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