No início de minha jornada pelo mundo dos vinhos, a Cabernet Sauvignon teve um papel importante no desenvolvimento de meu paladar. Naquela época, por volta de 2005, quando era estudante de publicidade e ainda não havia me aprofundado nos estudos do vinho, eu erroneamente pensava que a Cabernet Sauvignon era uma casta típica de vinhos leves e frutados. É muito provável que essa impressão tenha surgido, porque a grande maioria dos rótulos que provava naquele tempo era de vinhos jovens sul-americanos, feitos para o dia a dia. Basicamente, era o que dava pra comprar.
Com o passar do tempo, fui conhecendo novas variedades, expandindo meu conhecimento e deixando acender cada vez mais a paixão pela vitivinicultura. De forma inversamente proporcional, a Cabernet Sauvignon foi perdendo destaque entre minhas preferências. Comecei a pensar que ela era comum demais e, portanto, não seria capaz de entregar uma degustação rica como as outras castas. Pois é, eu estava enganado e foi assim que cometi o segundo erro com a Cabernet Sauvignon.
Ainda bem que estudar e degustar vinhos é também uma constante lição sobre nosso próprio grau de humildade perante o desconhecido. Como diria o renomado enólogo Felipe Müller, da Viña Tabalí, “as possibilidades de experimentação são infinitas, isso é o que apaixona nesse trabalho”. Verdades absolutas e preconceito sempre irão jogar contra nossa relação com a cultura do vinho. Foi pensando dessa maneira que voltei a me interessar pela “comum” Cabernet Sauvignon. É claro que existem muitos vinhos industrializados e simples feitos com ela, afinal se trata da cepa mais cultivada no planeta. No entanto, assim como acontece com todas as variedades viníferas do mundo, o terroir e a mão do enólogo no processo de vinificação podem transformar aquilo que é comum em algo extraordinário.
No início de 2021, tive a chance de conhecer um desses projetos surpreendentes de Cabernet Sauvignon e, por isso, resolvi compartilhar com você. Elaborado em apenas 2,5 hectares de vinhas orgânicas pela Finca La Promesa, o Bo Bó Bourgeois é daqueles vinhos de guarda, aveludados, que exploram várias camadas de aromas e sabores da casta. Um rótulo pra ser degustado devagar, em petit comité, acompanhando o vagaroso passar do tempo e da feliz quebra de nossos paradigmas. Cheers!
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados