O cenário mudou de forma expressiva a partir da ascensão da aristocracia e das classes de comerciantes. Nesse período foi estabelecido um sistema de parceria agrícola conhecido como “mezzadria”, no qual o proprietário fornece a terra e os recursos para o plantio em troca da metade ("mezza") da safra anual. Muitos transformavam sua metade da colheita em vinho, cujas garrafas depois seriam vendidas para os mercadores da capital Florença. Para que você tenha uma ideia de volume e importância desse mercado, no século XIV d.C. eram vendidos cerca de 8 milhões de galões americanos de vinho todos os anos em Florença. Portanto, aquela espécie de arrendamento de terras acabou sendo o berço da indústria que conhecemos hoje, com diversas vinícolas artesanais espalhadas por todo o território da Toscana.
Com seu povo, sua comida e sua arte, hoje essa é uma área vitivinícola mundialmente famosa e importante. Devido à ancestralidade, a agricultura pincela as belíssimas cores de sua paisagem, sendo que “os três grandes” – vinhas, oliveiras e trigo – sempre dividiram espaço nas vastas colinas da Toscana. Especificamente na viticultura, a Sangiovese é destaque como principal uva regional, compondo desde varietais clássicos até cortes modernos. Mesmo considerando os famosos Super Toscanos, nos quais a regra é não se apegar às tradições locais, essa cepa muitas vezes é utilizada como um apoio para variedades francesas. Além da Sangiovese, existem muitas castas italianas autóctones sendo cultivadas por lá, como Canaiolo, Colorino e Ciliegiolo, mas nenhuma com tamanha evidência. Geralmente essas outras são usadas em partes menores do corte, porém em casos raros e inusitados acabam ganhando protagonismo.
Depois de Piemonte e Vêneto, a Toscana produz o terceiro maior volume de vinhos de qualidade da Itália sob as designações D.O.C. e D.O.C.G., inclusive algumas delas são deveras ilustres: Brunello di Montalcino, Chianti, Morellino di Scansano, Nobile di Montepulciano. Em minha opinião, o eixo que as une é o potencial gastronômico. São exemplares muito versáteis à mesa, que acompanham uma infinidade de pratos, sejam eles servidos em ocasiões formais ou informais. Outra semelhança entre os vinhos toscanos são os toques aromáticos rústicos, que sempre aparecem para deixar a degustação ainda mais complexa, no bom sentido é claro. Agora é com você, inspire-se na harmonização sem medo de errar e boa degustação!
by Sommelier Rodrigo Ferraz | Direitos Reservados